Cadê a lavanderia???

A gente tem escrito bastante sobre passeios e atividades com crianças aqui na Suíça. Mas também recebemos perguntas frequentes sobre o dia a dia por aqui e curiosidades. Pensando no que mais chamou minha atenção quando me mudei para cá comecei a rascunhar uma série de posts que estão no forno para serem publicados em breve. O primeiro é essa “reedição” de um texto que escrevi faz alguns anos para um outro blog. Aqui vai…

Em 2004, antes de me mudar para a Suíça, comecei a visitar apartamentos para alugar com o meu então namorado. Não tínhamos muita ideia de preço e tínhamos definido um budget baixo, pois no começo seria somente ele trabalhando pra sustentar a casa. Acabamos caindo em algumas ciladas, como apartamento com quarto sem aquecedor, quarto sem janela e até um apartamento dividido pela escadaria do prédio. Sério! Do lado esquerdo ficava uma porta de entrada para a sala e cozinha, depois a escadaria para os outros andares no meio e do lado direito uma porta para dois quartos e o banheiro. Imaginou ir ao banheiro no meio da noite de pijama e cruzar com seu vizinho?

Eu comecei a ficar mais preocupada quando em um dos prédios nos falaram que não poderíamos tomar banho de noite para não incomodar os outros moradores. Oi? Eu ouvi direito??? Com o tempo fui entendendo que em alguns prédios mais antigos, onde a isolação realmente não é tão boa, dá mesmo para ouvir tudo de um apartamento pro outro… mas naquela época entrei em pânico.

Ainda assustada continuei nossa busca pelo “apartamento perfeito” e me deparei com outra dificuldade: aqui (quase) não existe “área de serviço”. Em muitos prédios existe apenas uma lavanderia comunitária e durante uma das visitas que fizemos nos disseram que nós poderíamos lavar roupa somente uma vez a cada vinte dias. Repito: uma vez a cada vinte dias!! Medo. Impossível que fosse verdade. Mas era. Retornei para o Brasil decepcionada e incumbi o meu então noivo de achar um apartamento onde eu pudesse fazer xixi de noite, tomar banho quando quisesse e não precisasse usar roupas sujas e fedidas por três semanas a fio. Desejo atendido… quando me mudei para a Suíça eu podia lavar roupa uma vez por semana por dois dias consecutivos na nossa querida lavanderia coletiva. Luxo puro!

No nosso prédio cada morador tinha seus dias fixos para lavar e secar roupa, o que de vez em quando era bastante complicado… um dia saímos de manhã e demoramos um pouco para voltar e como era o dia de outra pessoa lavar o dono do prédio (e também zelador) entrou em pânico e recolheu e dobrou toda nossa roupa, incluindo minhas calcinhas. Óbvio que passei a secá-las na secadora e decidi imediatamente que precisava melhorar de vida: queria uma máquina de lavar só minha.

Então assim que nos mudamos para Zurique persegui meu objetivo e consegui subir mais um degrau na pirâmide social kkkk. Continuava frequentando a bendita lavanderia comunitária, mas dessa vez cada apartamento tinha um compartimento individual com sua máquina de lavar e secadora. Um sonho! Só compartilhávamos a sala de secar.  Me esbaldei lavando roupa sempre que queria, sem ter que pedir permissão para ninguém. E sem me preocupar com barulho, pois as máquinas ficavam no porão. Mas depois de três anos subindo e descendo diversos lances de escada (mentira, tínhamos elevador), voltei a querer crescer (ou fui ficando preguiçosa mesmo) e passei a desejar para o próximo apartamento uma máquina de lavar dentro da minha própria casa.

E consegui! Viva o “reduit”!! Para quem não sabe, “reduit” é um quartinho sem janela, que funciona como depósito, lavanderia e quarto dos milagres. É simplesmente um salvador de vidas. Alguém vem te visitar e você não sabe o que fazer com tudo o que está espalhado no chão? É só chutar para o “reduit”. Quer lavar roupa dia e noite? É só ligar a máquina, fechar a porta do “reduit” e sair sorrindo pela sala. Seu filho não para de chorar? É só colocá-lo no “reduit” e ir tomar um banho de banheira. Hehehehe. Mentira!! Mas o luxo não parou por aí não… depois de uns meses fizemos um upgrade no nosso quartinho dos milagres e instalamos um varal. Fala sério!!! Um varal! Fiquei tão feliz que quase chorei. Abandonei de vez aqueles varais de montar que todos por aqui conhecem muito bem. Aquele treco feinho que fica no meio do quarto, no canto da sala, no corredor etc. Qualquer lugar é lugar para se montar esse varalzinho e quando pensamos que a roupa já está seca e vamos finalmente guardá-lo atrás da porta lá vem outra máquina para ser estendida. Com o varal de verdade meus problemas terminaram. Secava o que dava na secadora e o que não queria que encolhesse ou estragasse pendurava no varal e fechava a porta do “reduit”. Chique, né?

Juro que me apaixonei tanto pelo meu “reduit” que pensei até em transformá-lo em um mini home-office para que cada um dos meus filhos pudesse dormir em um quarto separado. Mas não cheguei a encarar esse projeto, pois nos mudamos novamente…

E para a minha felicidade subi ainda mais um degrauzinho na “pirâmide social suíça” e ganhei uma lavanderia de verdade. Além de máquina, secadora e varal, temos também um tanquinho (na realidade uma pia de cozinha fazendo as vezes de tanque, mas não importa)!!! Não me aguento de felicidade!!! Assim posso finalmente parar de lavar roupa de mão na banheira. Um sonho. Gostei tanto que até decorei a lavanderia com quadrinhos kkkkk.

Não posso reclamar de nada, mas de vez em quando me pego sonhando em um dia ficar rica de verdade. Assim poderia ter tudo isso e ainda ver um dinheiro extra sobrando no fim do mês para mandar as (muuuuitas) camisas do marido para lavar e passar fora ;))) kkkk.

Beijo com muito carinho,
Grazi

Ps. Esse texto é uma versão modificada do original que publiquei num blog que escrevia chamado “uma brasileira perdida na Suíça”.