Minha experiência com médicos na Suíça

Muitas pessoas nos perguntam como é encontrar um médico bom aqui na Suíça. A única resposta que posso dar: difícil, muito difícil.

Pode parecer contraditório, mas gosto muito do sistema de saúde suíço. Todos somos obrigados a pagar, em até três meses de chegada na Suíça, o seguro de saúde básico – “Grundversicherung“. A cobertura é abrangente, permitindo um atendimento de qualidade, de forma bem democrática. Isso é de tirar o chapéu! Todas as seguradoras são obrigadas a aceitar um novo segurado para o “Grundversicherung”, mas vale a pena comparar os valores dos planos de saúde, pois podem variar de uma empresa para outra. Depois existem diversas outras opções, como por exemplo seguro adicional (Zusatzversicherung) que cobre tratamento dentário ou oftalmológico ou que inclui tratamentos alternativos e remédios. Além disso, também é possível escolher, para o caso de uma internação (Spitalversicherung), se você gostaria de ficar em enfermaria/quarto compartilhado, quarto com mais uma pessoa (halbprivat) ou quarto privativo (privat). Isso também as vezes determina por qual médico você tem o direito de ser atendido em um hospital público: “Oberarzt” no caso de “halbprivat” ou “Chefartz” para “privat”.

Como eu consulto médicos sempre que sinto necessidade, nunca quis (ou consegui) economizar com seguro de saúde. Optei por halbprivat, seguro adicional e uma Franchise bem baixa, mas acabo pagando uma mensalidade absurda. No meu caso acho que pago somente CHF 300 de Franchise por ano, e depois desse valor o plano de saúde começa a cobrir. E eu continuo, assim como todo mundo, a pagar 10% dos custos das consultas e tratamentos. Se você é recém-chegado na Suíça não se assuste se receber as contas (salgadas) em casa. Algumas vezes o pagamento aos médicos é feito diretamente pela seguradora, mas em muitos casos os pacientes precisam pagar e enviar a cópia da conta para serem reembolsados.

Bem, a teoria é muito bonita, mas vamos à realidade… Quando me mudei para a Suíça não falava uma palavra de alemão, então pedi que meu marido (noivo na época) procurasse um ginecologista para mim, pois precisava de uma receita para minha pílula anticoncepcional. Esse foi meu primeiro contato com a medicina na Suíça, e foi medonho. A clínica que ele achou era a mais próxima da nossa casa, mas era “natural”, coisa que até então eu nem sabia que poderia existir. Nada de cama ginecológica; os exames eram feitos em cama de solteiro mesmo, e a médica de cabelo branco e faltando um dente na lateral me examinou munida unicamente de um espelhinho. Isso mesmo! E no fim se recusou a me dar a pílula que eu tomava há anos e me receitou uma outra que foi um desastre pro meu corpo. Desencadeou assim um trauma com relação aos médicos daqui e uma alteração hormonal que demorou mais de ano para se normalizar.

Enfim, depois de um tempo uma colega Suíça me indicou um médico bem senhorzinho, mas que gostei muito. Assim fiz as pazes com a ginecologia suíça e passei a respirar aliviada. Isso até resolver tratar meus vazinhos na perna…

Com mania de doença e excesso de vaidade cismei que minhas pernas estavam pesadas e inchando muito no final do dia: a famosa retenção líquida. Então fui buscar um médico especialista em veias e varizes. A mesma colega me recomendou um cuja fila de espera era de 4 meses. Devia ser bom, né? Nein!!! Retirei uma veia sem necessidade e fiz escleroterapia que culminou em uma necrose na minha perna. Quem já fez secagem de vasos sabe que existem riscos, e a necrose é um deles. Mas quando você vê um buraco na sua perna decorrente da morte de tecido, o mínimo que você espera é ser acompanhada e acalmada pelo médico que fez o procedimento. Mas para aumentar meu desespero fui atendida pela assistente, que disse que ele não tinha tempo para mim. Ela me mandou voltar para casa com aquele buraco e esperar cicatrizar.

Sem falar muito bem o alemão chorei e xinguei Goethe e o meu marido. O meu marido sempre levou a culpa, afinal o país “é dele”, certo? Ainda em choque fui tratar minha necrose em Zurique e acabei fazendo as pazes com a angiologia e dermatologia suíça.

Mas o que fazer se seu dente começa a doer e você não tem um dentista? Corri em uma clínica de emergência super-ultra-mega equipada. Fiquei impressionadíssima com todos os monitores de televisão e completamente em pânico quando o dentista disse que teria que fazer uma cirurgia no meu dente para fazer um diagnóstico, sem descartar a possibilidade de um tratamento de canal. Como estava com passagem marcada para o Brasil aguentei firme até me consultar com o meu dentista em São Paulo. Diagnóstico: gengivite. Tratamento: limpeza profunda. Pronto! De volta à Suíça recebemos, depois de muito perguntar, a recomendação de um dentista logo depois da fronteira com a Alemanha e assim fiz as pazes com a odontologia suíço-germânica.

Hoje, depois de dez anos de Suíça muita coisa mudou na minha vida. Inclusive todos os meus médicos. Depois de muito testar e me estressar, acabei percebendo o óbvio: recomendação é tudo. Até médico de família eu arranjei, coisa que relutei muito a fazer. O médico de família – “Hausartz” – é um clínico geral que coleta todo o seu histórico de saúde, inclusive exames e tratamentos feitos por outros médicos, e te encaminha para especialistas, quando necessário. Como sempre achei que ele acabaria me encaminhando de qualquer forma para outros médicos, ia direto aos especialistas por conta própria. Mas isso nem sempre funcionou bem. O médico de família, quando bom e de confiança, tem uma visão geral do seu quadro de saúde e pode te ajudar de forma bastante competente. Duro é achar um que você goste kkkk. O que também é importante ter em mente, é que dependendo do seu plano de saúde a consulta com o especialista só é coberta se você for encaminhado via médico de família. Então pular essa etapa pode ser um tiro no pé.

Mesmo com toda minha experiência aqui na Suíça, uma coisa que ainda acho difícil de aceitar e me acostumar é a “(in)habilidade” da maioria dos profissionais de saúde daqui para lidarem com pessoas. Passei por inúmeros médicos e acho que apesar de em geral terem um excelente conhecimento técnico, predomina muitas vezes uma insensibilidade e frieza que me assustam. E não dá para colocar a culpa no idioma (e nem mais no meu marido ;)), pois eu falo alemão. Deve ser uma diferença cultural muito grande mesmo, o que torna nossas expectativas difíceis de serem atendidas. Olhando minha lista atual de médicos vejo que muitos falam português (ou arranham) ou tem a mente (e o coração) aberto para novas culturas. Só assim acabou dando certo comigo.

Portanto, se você encontrar um médico que goste aqui na Suíça peça em casamento imediatamente!! E deixe ele te trair com todas as suas amigas! 😉

Bem, pra não perder o costume há um mês fiz a retirada (desnecessária) de quatro pintas nas costas. Não poderia dar nada de errado, afinal não fiz nem com o dermatologista, e sim com uma cirurgiã plástica recomendada pela minha médica de família, certo? Hmmmmm… infelizmente estou com quatro quelóides nas costas, muito maiores do que as pintas originais. Claro que existe a reação da pele, que não dá para prever, mas já fiz outras cirurgias antes e isso nunca tinha me acontecido. Bem, só quero ver quantos médicos vou precisar conhecer dessa vez até acertar de novo…

Para encontrar médicos converse com sua rede de contatos e peça referências ou consulte um dos sites abaixo:
www.doctorfmh.ch
www.doktor.ch
Se tiver mais perguntas pode comentar neste post ou escrever para a gente: info@mamaesnasuica.com

Um grande abraço e boa sorte!
Grazi

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