Final do jardim de infância e início da escola

A Isabella tem apenas essa semana de férias e ingressará no primeiro ano da escola. Ela mal pode esperar e faz uns dois meses que fica em casa desfilando com sua mochila. Aliás se prepare, pois a compra dessa mochila dá o que falar… e ataca sua carteira em cheio! Hahahaha.

A preparação para o início da escola já começou faz tempo, e sentimos essa mudança aqui em casa de forma gradual. No final do Kindergarten (jardim de infância) todos os pais tiveram uma conversa individual com a professora para saber sobre o desenvolvimento das crianças e entender quem poderia ou não começar no primeiro ano da escola regular. Aqui na minha Gemeinde as crianças não repetem o jardim, mas se não estiverem “maduras” o suficiente podem ser enviadas para uma sala especial de primeiro ano, onde recebem atenção diferenciada. Assistimos também à uma palestra na futura escola para conhecer os professores e o diretor. Depois de brevemente falar sobre a escola, corpo docente e programa, a maior parte da noite foi dedicada à importância de os pais deixarem os filhos fazerem o caminho da escola sozinhos, sem o que eles chamam de “superproteção” – lavagem cerebral nos pais… kkkk

Percebi que no último semestre de jardim de infância a Isabella já vinha reclamando que estava tudo muito “langwillig”. Ela queria mais. Então em casa seguimos os últimos meses atendendo aos seus pedidos de ensiná-la a ler e escrever palavras e frases. Impressionante como esse interesse surge de forma natural. Foi assim também com seus amiguinhos e quando o processo formal de alfabetização começar na escola, em pouquíssimos meses acho que estarão lendo e escrevendo.

Olhando para trás hoje vejo quanta coisa eu mudei na forma de pensar com relação ao jardim de infância Suíço e o quanto venho repensando o sistema educacional. Antes achava uma perda de tempo as crianças não serem alfabetizadas ainda no jardim e lentamente fui entendendo que nessa fase são priorizadas outras habilidades. A educação formal acontece em um outro ritmo do que estava acostumada no Brasil, mas a finalidade é a mesma.

Avaliando esses dois últimos anos de jardim de infância vejo muita riqueza e percebo grande importância em muito do que a Isabella aprendeu. Foram diversos trabalhos manuais, como bolsinhas que ela costurou e bordou com muita atenção e carinho, jogos e objetos que criou, dobraduras, desenhos e outros projetinhos que desenvolveu com bastante orgulho. Aprendeu também a assar pães para o café da escola, a dividir e compartilhar seu lanche com os amiguinhos e a controlar para que eu colocasse fruta e legumes nos dias certos. Chocolate é tabu e levei até bronca dela no dia em que coloquei por engano uma bolachinha com cobertura de chocolate.

Aprendeu a preparar salsicha na fogueira nos dias de floresta e sabe o nome de plantas e insetos que eu desconheço. Aprendeu a passar frio ou calor quando eu errava na roupa do dia (ooops, sorry!). E aprendeu a improvisar e fazer “Turnen” descalça quando eu me esquecia do “Finken”. Então logo aprendeu a me lembrar do que deveria ser colocado em sua mochilinha… Kkkk

Aprendeu a lidar com pequenos conflitos com coleguinhas e a aceitar leves críticas dos professores, como quando chegou atrasada pois parou no caminho para se maquiar escondido (SIM!!!) com uma amiguinha. Aprendeu orgulhosamente a abrir potinho de tupperware (no primeiro ano a professora disse que ela não tinha força suficiente), mas continua sem conseguir descascar bananas. Nesse ponto eu tive que dar uma “roubadinha” e quem aprendeu fui eu… aprendi um truque com outro papai “esperto”, que me ensinou a dar um cortinho na pontinha da banana antes de colocá-la na lancheira. Pronto, a professora nunca mais falou nada! 😉

Aprendeu que quando demora muito de manhã e se atrasa tem que caminhar sem companhia para o Kindergarden pois seus amiguinhos já foram. E que de vez em quando mesmo quando se apressa precisa ir ou voltar sozinha, pois seus coleguinhas querem andar com outras crianças. Aprendeu que nem todos os dias seus amiguinhos preferidos querem brincar com ela, e que isso é normal. Aprendeu que pode ficar chateada, frustrada ou triste (e eu aprendi a acalmar meu coração). E aprendeu que isso passa, quando no dia seguinte volta sorrindo (e meu coração sorri de novo), pois brincou com várias crianças e voltou com uma turminha, todos descalços e molhados, pois no caminho resolveram que precisavam “umbedingt” entrar em uma fonte de água. Aprendeu que existem dias bons e outros nem tão bons assim.

Aprendeu a ensaiar para teatrinhos e apresentações de música. Aliás aprendeu a cantar diversas musiquinhas suíças (tenho a impressão de que sua professora é uma cantora frustrada, pois nunca vi cantarem tanto no Kindergarten como aqui kkkk). Aprendeu que tem que fazer atividades que não gosta, pois fazem parte do programa, mas também faz coisas que adora. E se diverte e aprende nos dois.

Aprendeu que eu sou estrangeira, falo com sotaque e erros e isso é ok. Me lembro que no começo, quando eu acompanhava o grupo até a esquina, ela reclamava que eu falava “guten morgen” muito cantado. Acho que ficava com vergonha do meu sotaque (e eu com raiva dela). Dei uma suavizada e comecei a me segurar na empolgação, mas lentamente mostrei pra ela que eu, assim como alguns dos pais de outros amiguinhos, sou assim, e isso é mais do que ok. Hoje ela se orgulha de falar português comigo na frente deles, faz pequenas traduções e vem feliz pra casa quando aprende como se fala algumas palavras em inglês, taiwanês, italiano ou cingalês (Sirilanka).

Ou seja, aprendeu o inevitável: a comparar e ser comparada. E entendeu que a diferença existe. Nesse último ano ainda aprendeu que não foi a primeira a ganhar o finger spinner e que nem tudo o que os amiguinhos têm ela terá. E antes que eu me esqueça: aprendeu a amarrar o sapato sozinha – nunca imaginei que isso fosse um “pré-requisito tão importante para a entrada na escola. Mas é!!

Eu poderia continuar essa lista imensa de tudo o que ela aprendeu. Poderia também iniciar uma com tudo o que eu aprendi. Mas vou parando por aqui. O que queria adicionar apenas, é que apesar de ter usado sempre o verbo no passado tudo isso é aprendizado contínuo. Diário. Todos os dias aprendemos mais e mais e mal posso esperar para ver o que a escola trará. A ansiedade é grande e parece até que sou eu quem vai começar no primeiro ano. Mas não. E fecho aqui com a sábia frase da minha filha quando eu quis dar palpite na mochila que ela iria escolher pra escola: “mamãe, essa mochila é minha. Se você quiser escolher, compra uma pra você!!” É mole?? hehehehe

Um abraço com carinho,
Grazi