Jardim de infância… e outras preocupações
Educação

Jardim de infância… e outras preocupações

26 jan 2015

kw_schooldays_busAinda sobre esse assunto… como vocês já devem ter lido, esse ano minha filha vai começar no jardim de infância e minha cabeça já está a mil. Comecei a pesquisar sobre o sistema educacional suíço e a entrada para o jardim de infância, mas ao invés de ficar mais calma tenho ficado mais apreensiva. Minha primeira preocupação é com a escolha do local, pois aqui na Suíça a palavra “escolha” não se aplica quando o assunto é escola. Quem opta pelo ensino público tem que aguardar para ver em qual escola seu filho será matriculado. A distribuição é feita pelo “governo” e depende do local de moradia e do contingente de crianças e escolas.

No mês passado meu marido ligou (por pura e espontânea pressão da minha parte) para o órgão responsável por essa distribuição e foi aconselhado a não escrever ainda nenhuma carta mostrando preferência por essa ou aquela escola, pois todas as cartas estão sendo ignoradas no momento. O processo só terá início em março desse ano , e só então eles começarão a avaliar cada caso. E isso não quer dizer que nossos “desejos” serão atendidos.

Minha segunda preocupação é o percurso até a escola. Já escrevi sobre isso antes, mas por aqui é incentivado que as crianças, desde cedo, façam o percurso até a escola sozinhas ou com coleguinhas. Sem os pais! No jardim da infância ainda há uma certa tolerância, mas a partir do primeiro ano os pais são criticados e os professores se acham no direito de até proibí-los de acompanharem as crianças até a porta da escola. Assiti a uma palestra para imigrantes de lingua portuguesa sobre o sistema de ensino na Suíça e o professor Suíço disse que PROIBIA os pais de seus alunos a levarem os filhos até a escola. Desculpa, ouvi direito???

Claro que quero que minha filha seja independente e tenha auto-confiança. Mas não acho que ela precise impreterívelmente atravessar sozinha as ruas para conquistar isso. Muito menos com seis ou sete anos de idade. Para pessoas que moram em áreas mais remotas ou vilarejos calmos pode até ser que funcione. Mas eu moro em um bairro movimentado, no meio da cidade, cheio de desconhecidos, com muitas empresas e perto da estação de trem e pontos de ônibus e tram. Sem falar nos ciclistas que não respeitam regra alguma. O tráfego de pessoas desconhecidas e carros é imenso e não vejo a menor possibilidade de eu deixar minha filha circular sozinha pelas ruas do bairro. E mesmo que ela vá com coleguinhas, se acontecer algo quem vai se responsabilizar? Uma outra criança?

Esse é um ponto chave para mim. De quem é a responsabilidade pela segurança das crianças? Não são os pais? Ou o professor que se acha no direito de me proibir de acompanhar meus filhos até a porta da escola vai se responsabilizar caso eles sejam atropelados no caminho ou desapareçam nas mãos de algum desconhecido?

Se a responsabilidade é minha, o direito de escolha também deve ser, não? Respeito muito a posição dos professores e acho que no Brasil infelizmente esse papel tão importante perdeu muito seu valor. Se o respeito aos professores fosse resgatado isso teria certamente um impacto bastante positivo nas crianças. Na Suíça o quadro é diferente. Eles valorizados por serem educadores, formadores de opinião, influenciadores e autoridades em sala de aula. Agora repito o que penso: em sala de aula. O que me assusta do que tenho ouvido por aqui é que essa autoridade as vezes acha que pode pular os muros da escola e invadir o espaço dos Pais.

Recentemente li um artigo que foi pulicado no jornalzinho do Coop (Nr. 43, de 21 de outubro de 2014) sobre circulação segura de pedestres nas ruas. O texto mencionava que crianças de até 10 anos não conseguem estimar corretamente as reações no trânsito. Também correm mais riscos por serem pequenas e muitas vezes os motoristas não as veem direito. Isso sem falar nas reações repentinas que as podem ter ou pura distração, sem dar aos carros a menor chance de parar.

Enfim, não quero entrar armada para uma guerra que nem começou e espero que nunca aconteça, mas não vou me forçar a agir de uma forma que não concordo. Vou aceitar muitas das recomendações dos professores e vou ouvir seus argumentos com bastante atenção e respeito. Mas esse mesmo respeito vou exigir caso a decisão que nossa família tomar seja diferente da maioria. Cada um sabe o que é melhor para si. E cada criança reage de um jeito e precisa ter sua personalidade e maturidade também levada em consideração. Entendo que a “responsabilidade” ou liberdade de ir sozinho para a escolar pode ajudar na independência e auto-estima das crianças. Mas esse não é, nem de longe, o único meio de se atingir isso.

Com carinho, Grazi
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1 comentário
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