
Sou filha única em uma família pequena e nossa aptidão musical é nula. Então música foi mais uma novidade na minha vida desde que conheci meu marido e ingressei em uma nova família. Apesar da fama do gingado e ritmo brasileiros eu não sei dançar, cantar e nem tocar nenhum instrumento. Os “meus suíços” devem ter ficados decepcionados comigo, mas eu fiquei encantada com eles. Parece que aqui todos são dotados de algum talento musical.
Não que eu não tenha tentado. Na infância fiz um mês de aulas de piano e como não aprendi a ler partitura desisti. Quanta força de vontade, né? Já na Suíça, antes de ter filhos fiz aulas de forró e salsa com meu marido. Mas parece que eu nasci com os dois pés esquerdos. Olhando para trás me lembro que na minha formatura meu avô dançou valsa comigo e no meio da dança soltou com carinho “nossa Grazielinha, você dança muito mal”. Pronto, se eu já tinha complexo, ali ele foi sedimentado de vez.
Não sei como é hoje em dia no Brasil, mas quando eu era criança também tínhamos aula de educação artística e música. Mas acho que era mais de forma lúdica e não para aprender mesmo um instrumento. Aqui sinto que a maioria das crianças (ou seus pais) escolhem um esporte e um instrumento para elas aprenderem. Pelo menos essa é a mentalidade da “minha família Suíça”. Meu marido tocou violoncelo por 20 anos, sua irmã sabe tocar piano e toca violino em uma orquestra, meu cunhado canta no coral e assim vai.
Eu toquei coquinho quando pequena. Sério!! O único instrumento que toquei foi coquinho em uma peça da escola. Tentei pandeiro mas não funcionou. Depois atabaque, mas perdi o ritmo no meio da aula e então a professora me colocou no coquinho. Nessa apresentação me lembro que as meninas pequenas e bonitinhas dançaram frevo na frente, enquanto que eu, grandona, fui colocada no fundo tocando coquinho. Eureka! Acho que foi aí que surgiu o meu complexo. Hahaha, vou correr pro divã de um psicanalista!!
Voltando… ainda não colocamos a Isa em nenhuma aula de música mas ela tem mostrado interesse por flauta. Acho que todos começam por aí. Ela ganhou uma de brinquedo de um amigo e toca que é um horror. Mas eu digo que está lindo. Tudo pela motivação. Meu marido incentiva bastante e acha que devemos (leia-se “eu devo”) contatar o conservatório de música local para que ela experimente um instrumento e comece a fazer aulas. Concordo. Mas difícil está incluir mais essa atividade na agenda dela (e minha!!). Por experiência própria ele fala que a música traz disciplina, ensina a lidar com frustração, fortalece a autoestima e aumenta a coragem para tocar para o público, ensina que a criança consegue resultados bons quando treina bastante… a lista de benefícios é imensa. Eu não quero e nem conseguiria dizer algo contrário. Mas mesmo assim não é muito fácil estimular algo com o qual não sinto nenhuma afinidade.
Mas estou trabalhando nisso. Quando me desencorajo penso no lado materno da família do meu marido. Os tios e primos deles são dinamarqueses e estiveram no ano passado na nossa casa. Depois do jantar, uma caipirinha e algumas taças de vinho o namorado da prima sacou o vilão e eles deram um show na minha sala. Prima, tio e tia cantando lindamente. Eu, mesmo com tanto álcool na veia só consegui filmar tudo, morrendo de inveja e de orgulho. Até Garota de Ipanema “cantaram”. Esses dias participei de um evento em Baden, organizado pela Adapte-se, e vi uma apresentação do Coral Canta Brasil. Que lindo! Eles fazem um trabalho super legal e o canto para eles é como terapia. Estou até pensando em participar. Quem sabe descubro dentro de minha uma voz escondidinha e me solto um pouco. Nem que seja lá do fundinho, já que grande eu continuo sendo 😉
E enquanto isso bóra procurar aula de música para a Isa antes que ela destrua nossos ouvidos com a flauta!!
Beijo com carinho,
Grazi